Uns meses atrás na fila do banheiro de uma festa um amigo perguntou sobre o lançamento do livro. Tentei fugir da pergunta e me peguei falando pela primeira vez meu maior medo nesse processo todo: colocar toda a minha vulnerabilidade no mundo, para todo mundo ver. Por mais que eu já tenha postado poemas nas redes sociais ou mostrado para as pessoas, essa coletânea reúne poemas escritos nos momentos mais difíceis e vulneráveis que passei nos últimos anos. São do fundo do fundo da minha alma, do meu coração, da minha ansiedade. Sou eu, praticamente nua e crua.
E isso está me deixando apavorada.
Eu sei que eu falo muito de The 1975 (e falaria mais se não fosse too much), mas o show novo deles me deixou pensando muito sobre se expor através da arte. E nem é sobre as letras extremamente pessoais e a arte como meio de terapia, mas a performance durante a turnê nova. Em dado momento do show, Matty vai para um palco separado do resto da banda. Lá ele se depara com uma versão dele mesmo, deitado em posição fetal e nu (você pode assistir aqui). Ele interage com a versão nua de si mesmo e depois toca talvez a que seja a música mais vulnerável e gut wrenching deles: Be My Mistake. Esse trecho do show é chamado de “Matty’s Nightmare”.
Conversando com minha irmã falamos de como deve ser difícil você expor seus maiores medos e pesadelos como forma de terapia e processo artístico.
Durante a leitura do “Destruição do Pai, Reconstrução do Pai” e ver Louise expondo seus traumas através da arte eu só conseguia pensar nisso, na coragem dela de se abrir para a arte – coisa que falei bem na edição 28 da newsletter. Foi essa leitura que começou a apaziguar a minha ansiedade, mas com a data do lançamento cada vez mais próxima esse medo voltou a surgir forte por aqui.
Eu não faço ficção. Eu escrevo poesia. E não tem nada mais honesto, pessoal e visceral do que poesia. Ainda mais no meu caso. Essas poesias foram escritas sobre o momento que eu estava vivendo. Sobre coisas que eu passei. Foi a maneira que encontrei de lidar com muitas delas. E foi a primeira vez que consegui criar de verdade um projeto fechado. “adeus” surgiu primeiro como conceito e depois como poemas. Eu não acho que todo artista seja traumatizado ou precise de trauma pra criar. Mas eu sei que pra mim esse trauma foi pontapé inicial para romper minhas barreiras criativas.
E ver meus traumas e minhas dores prestes a serem lidas por quem me conhece tá me dando um nó na cabeça. Claro que eu quero que todo mundo leia o livro, mas ao mesmo tempo, não quero que ninguém leia. Seria mais fácil escrever ficção e eu poderia falar que inventei tudo. Nesse caso não tem como, tem poemas que são cenas exatas de coisas que eu vivi. Talvez eu nem deveria falar isso poderia falar só em “liberdade poética, inventei tudo”. Mas não.
Poesia pra mim vem de vivência, de dor, de verdade, de sentimentos. Não tem como set de outro jeito. Não tinha como meu primeiro livro não ser o meu peito aberto e estirado para todo mundo ler. Talvez os próximos sejam menos vulneráveis e menos viscerais. Talvez eu consiga escrever ficção.
Hoje só consigo ficar completamente aterrorizada com a ideia de todo mundo me ver como eu sou. Ou como a minha cabeça funciona.
E admirando todo mundo que tem coragem de expor a sua vulnerabilidade para criar arte.
Sei lá acho que no fundo tô surtando de ansiedade. Queria falar mais mas não consigo falar mais.
De qualquer forma dia 28 lança meu livro na Livraria Ponta de Lança.
Espero ver vocês lá.
Ou não.
(brincadeira, espero sim)